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Qual a diferença de educação tradicional e construtivismo?

O que é o construtivismo e qual a sua origem? Teria sido Jean Piaget, Lev Vygotsky ou Jesus Cristo seu autor? Educação construtivista versus o tradicionalismo, uma análise que tenta expor alguns de seus problemas, bem como as vantagens.

O conhecimento pode ser transferido de uma pessoa para outra? Um professor pode mesmo ensinar um aluno? Bem, eu sempre acreditei que as respostas seriam sim, ou seja, o conhecimento pode ser transferido e o professor pode sim ensinar seus alunos, afinal eu já fui um aluno e aprendi, logo, tenho a prova de que isso é uma verdade. Ou não?

Educação tradicional

O pensamento acima é fruto daquilo que chamamos de educação tradicional e provavelmente foi a educação que você leitor recebeu e eu também. Neste modelo tradicionalista o professor é a figura principal do processo de ensino-aprendizado e pelo menos na nossa cabeça de aluno, ele detém o conhecimento e está ali para transferi-lo para nós e é assim que se ensina e aprende.

Na educação tradicional existem algumas ferramentas muito comuns como as palestras, a aula tradicional onde o professor fala e o aluno ouve, o sistema de avaliação muito fundamentado em provas ou exames que atestam o aprendizado ou não do aluno, o modelo bastante hierárquico e de alguma forma muito focado em conteúdo.

É claro que isto pode variar muito de casos para casos e não é possível traçar uma linha muito nítida, mas de alguma forma esses elementos vão aparecer em maior ou menor grau no modelo de educação tradicional.

Basta olhar para o nosso histórico escolar para identificarmos claramente alguns desses fatores, senão todos na formação escolar que a maioria das pessoas, especialmente dos mais antigos.

Construtivismo

Existe outra corrente de pensamento que acredita que as coisas não funcionam desta forma, que o conhecimento não pode ser na verdade transferido, mas que pode ser construído no aluno, tendo o professor não como o agente do conhecimento, mas como um mediador que levará o aluno a construir seu próprio conhecimento. Neste sentido a inteligência é desenvolvida e ocorre pelas ações mutuas entre o meio e o indivíduo. Esta concepção que é derivada de algumas teorias, dentre elas a conhecida epistemologia genética de Jean Piaget, é conhecida como construtivismo ou educação construtivista.

Educação tradicional versus construtivismo

Eu trabalho como professor em uma instituição que é "110% construtivista", os 110% eu coloquei por minha conta, por considerar alguns extremos ou exageros na aplicação desta teoria. A verdade é que tive muitas dificuldades por assimilar e aceitar (se é que aceitei) a educação construtivista por não concordar que ela possa ser aplicada em todas as situações da mesma forma. No início, parecia que as coisas caminhavam neste sentido, ou seja, ela a resposta para todas as perguntas pedagógicas e finalmente a solução para o processo de ensino-aprendizagem.

Eu sou professor na área de tecnologia da informação e esta área historicamente sempre foi vista como um bicho de sete cabeças, então em muitos casos é preciso entrar na cabeça do aluno e tentar fazer aquilo que a educação tradicional sugere, ou seja, transferir conhecimento.

Preciso reconhecer que quando eu olho para a minha formação profissional em TI, vejo muito mais construtivismo que tradicionalismo, mas tenho dificuldades em usar como professor e da maneira que sugere os melhores pedagogos defensores desta corrente. Seria eu o único?

Origem do construtivismo

Seria mesmo Jean Piaget, Lev Vygotsky e outros contemporâneos deles os pais da educação construtivista, ou melhor, teria saído deles as bases para a formação desta corrente de pensamento? Gostaria que você observasse com bastante atenção o relato abaixo:

Um mestre da Lei se levantou e, querendo encontrar alguma prova contra Jesus, perguntou: — Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?

Jesus respondeu: — O que é que as Escrituras Sagradas dizem a respeito disso? E como é que você entende o que elas dizem?

O homem respondeu: — “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a mente. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo.”

— A sua resposta está certa! — disse Jesus. — Faça isso e você viverá.

Porém o mestre da Lei, querendo se desculpar, perguntou: — Mas quem é o meu próximo?

Jesus respondeu assim: — Um homem estava descendo de Jerusalém para Jericó. No caminho alguns ladrões o assaltaram, tiraram a sua roupa, bateram nele e o deixaram quase morto.

Acontece que um sacerdote estava descendo por aquele mesmo caminho. Quando viu o homem, tratou de passar pelo outro lado da estrada.

Também um levita passou por ali. Olhou e também foi embora pelo outro lado da estrada.

Mas um samaritano que estava viajando por aquele caminho chegou até ali. Quando viu o homem, ficou com muita pena dele.

Então chegou perto dele, limpou os seus ferimentos com azeite e vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele.

No dia seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão, dizendo: — Tome conta dele. Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que você gastar a mais com ele.

Então Jesus perguntou ao mestre da Lei: — Na sua opinião, qual desses três foi o próximo do homem assaltado?

— Aquele que o socorreu! — respondeu o mestre da Lei. E Jesus disse: — Pois vá e faça a mesma coisa.

Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje [Lucas 10, 25-17]

O mestre da lei faz algumas perguntas e as respostas de Jesus não são diretas, Jesus não transferiu nenhum conhecimento para aquele homem, mas o ajudou a construir seu próprio conhecimento. Para isso ele usou algumas coisas bem conhecidas do mestre da lei, a saber: as Escrituras Sagradas e o problemático relacionamento que havia entre os judeus e os samaritanos. No meu entendimento, este é um extraordinário exemplo de construtivismo e se minha interpretação estiver correta, Jesus não foi só o maior psicólogo ou líder que já existiu, mas também o maior pedagogo que já existiu, muito antes de Piaget, Vygotsky e outros.

Problemas do construtivismo

O construtivismo, assim como quase todo outro sistema de ideias tem suas vantagens e suas desvantagens. É importante analisarmos dessa forma para não fecharmos com uma questão de maneira cega sem reconhecer que ela também pode trazer problemas.

Assim, eu citei a questão dos excessos ou dos exageros e acho que aí está o problema. Se você considerar o construtivismo de maneira mais equilibrada e ele tem muito a contribuir com educação como um todo, mas levá-lo ao extremo e sobretudo negar que do outro lado a educação tradicional também tem algo a oferecer, pode surgir aí um problema que eu resumo da seguinte forma e com duas perguntas:

A verdade existe? Ela é absoluta?

No meu entendimento e com a minha crença, as respostas acima são positivas para as duas perguntas, ou seja, a verdade existe e não apenas isto, ela é absoluta.

Se você levar o construtivismo ao extremo você negaria a segunda pergunta, ou seja você começa a criar a ideia de que a verdade é algo relativo e cada pessoa tem uma verdade, portanto tudo é válido desde que esteja de acordo com a verdade de cada um. Claro que para um cristão como eu, isto é um completo absurdo.

Portanto o meu relacionamento com a educação construtivista é com equilíbrio e cautela, embora reconhecendo o seu valor, não levo ela ao extremo, nem nego as vantagens que a educação tradicional tem a oferecer.

Problemas da educação tradicional

Vou resumir o que penso:

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