O brasileiro sabe ler e interpretar nas redes sociais e internet?

Muitas pessoas não leem ou não sabem interpretar texto? Veja uma experiência vivida com leitores online e as dificuldades para lidar com diferentes tipos de leitores na internet.

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Quando comecei a escrever os primeiros posts no blog do Luis tive uma surpresa, seguido de uma decepção. A surpresa foi perceber que as pessoas estavam gostando daquilo que eu me propus a escrever, a decepção foi perceber que muitos não estavam entendendo o que eu queria dizer.

A leitura na internet

Nos comentários as pessoas pediam informações que eu já havia dado no texto, faziam perguntas sem perceber que a resposta já estava evidente no texto do post. Isso me preocupou e a primeira conclusão que tirei é que eu não estava sendo claro o bastante ou que minha redação estava tão ruim que as pessoas se quer percebiam a mensagem que eu estava tentando transmitir.

Ler e interpretar

Comecei a rever os textos, argumentar nos comentários e tentar ser mais objetivo ainda na esperança que as coisas melhorassem neste sentido. Não. Não melhorou nada.  Aí veio a dúvida: Será que eles não leem ou não sabem interpretar texto? Claro que não estou falando de todos, mas havia uma parcela significativa.

Um dia ouvindo um podcast no Webinsider, o Vicente Tardin e o Michel Lens relataram que passavam pelo mesmo problema que eu. O Michel comentou que postou no blog dele um texto dizendo que faria uma série de palestras no Senac São Paulo, como de fato fez. Em seguida as pessoas começaram a mandar e-mails e comentários para ele pedindo informações sobre cursos do Senac.

Se um site como Webinsider, que é formado por pessoas extremamente competentes e escrevem muito bem, isto também ocorre, então o problema só pode estar na interpretação do texto.

Tempo depois, lendo algumas páginas de orientações na Wikipédia, percebi que eles andam preocupados em deixar claro que a “o Wikipédia não faz”. De novo entendi que por lá também as pessoas não leem os textos como deveriam ler ou não interpretam como deveriam interpretar.

E preciso ler. É preciso interpretar

Por fim compreendi que a leitura na internet é apenas uma extensão da leitura em qualquer outro meio, seja ele livro, jornal, revista, etc. Se na internet as pessoas não leem é possível que não leem também em outros meios, se não sabem interpretar texto na internet não saberão interpretar em lugar algum. Isto é complicado, pois na melhor das hipóteses vão ficar sem entender o que está sendo proposto e na pior das hipóteses vão entender o que o texto não está dizendo.

Obs: Em muitos posts deste blog os comentários estão desabilitados. Nesses casos, não encontrei outra solução, pois as pessoas começam a fazer as mesmas perguntas em um ciclo sem fim, mesmo que a resposta esteja ali, bem acima.

Por que isso acontece?

O relato acima deve nos levar ao questionamento ou a uma possível busca por razões para este problema, ao mesmo tempo tentar compreender os problemas que são gerados com isso. Embora eu não seja capaz de produzir todas as respostas a esta questão, creio que os pontos abaixo poderão nos ajudar a compreender melhor:

  • Não temos a cultura de ler. Este parece ser o primeiro e talvez um dos principais motivos, ou seja, nossa cultura de pouca intimidade com os livros ou textos em geral. Quando não havia internet as pessoas precisavam comprar ou assinar jornais e revistas, comprar livros ou ir em uma biblioteca alugar. Pelo que sabemos, esta cultura era restrita a uma parcela pequena da população.
  • Nossa leitura é superficial. Com a chegada da internet as coisas poderiam melhorar já que agora temos acesso a muito conteúdo gratuito e disponível a qualquer momento e a qualquer pessoa, mas essa abundância de conteúdo nos levou a outro problema que é fazer uma leitura superficial.
  • A cultura do ver. O mesmo não se pode falar dos vídeos e não é a toa que o Youtube é um grande sucesso por aqui. Na verdade isto tem a ver com nossa formação que foi muito mais orientada a ver do que a ler. Isto começou com a televisão e agora se estende aos vídeos na internet.
  • Opinião pronta. Por fim e talvez não menos importante, receio que haja a cultura de pegar opinião pronta ao invés de formá-la. Isto é cômodo e nos agrada, ao mesmo tempo que desestimula a leitura, a indagação e a interpretação em busca de resposta ou de compreensão adequada ao que se está propondo naquele texto.

Atualização

Quando escrevi esse artigo as redes sociais já existiam, mas ainda não era um fenômeno como é hoje e por isso vale aqui uma atualização para mostrar que as coisas não mudaram muito de lá pra cá.

Naquela época os blogs ainda estavam em evidência e a leitura de um texto maior ainda era necessária para chegar a uma conclusão do que leu e assim fazer um juízo de valor. Basicamente a internet estava sendo pensada como uma extensão do livro, do jornal da revista de outros meios impressos que já existiam e com isso seguiam basicamente a mesma ideia de se ter um texto com começo meio e fim onde as pessoas deveriam ler do início ao fim e procurar a melhor interpretação, isto é tentar identificar a intenção do autor para se chegar a uma conclusão correta da interpretação.

Rede sociais

Mas aí as redes sociais ganharam um espaço gigantesco e isso trouxe uma série de problemas para leitura e a interpretação. Veja alguns pontos que eu destacaria:

  • Texto curto: surgiu a cultura das frases onde em meia dúzia de palavras se resume toda uma história. Não podemos desqualificar as frases, elas são importantes e de fato tem a capacidade de sintetizar em poucas palavras uma ideia maior, mas elas podem ser um risco à interpretação quando elas são produzidas e colocadas fora do seu contexto, como é muito comum acontecer nas redes sociais.
  • Contexto: por falar em contexto é importante levar em conta que todo texto precisa ser lido dentro do seu contexto e nas redes sociais o contexto meio que desaparece. Tudo é muito fácil de ser manipulado, frases no local errado com a intenção específica de inverter a ordem ou mesmo produzir uma ideia diferente daquela que a própria mensagem escrita poderia ter. Tudo é possível nas redes sociais, isto porque as vezes não há um contexto muito definido para que o leitor possa identificar.
  • Ver e não ler: o YouTube está em alta, os vídeos do Facebook e Instagram estão em alta. Os áudios do WhatsApp estão em alta. Tudo isso são meios de comunicação que tiram do leitor o velho hábito de ler para sintetizar uma ideia. Em outras palavras as pessoas estão interessadas em ouvir e ver e não necessariamente na leitura.
  • Fake News: Fake News é um fenômeno terrível que traz umas séries de consequências danosas para a comunicação como um todo. Elas são produzidas com a intenção má, isto é, são produzidas para promover uma mentira, uma informação enganosa ou para criar um pensamento que seja de interesse de alguém. A propagação desse tipo de informação nas redes sociais é como um vírus descontrolado e isso se considerarmos que as pessoas não leem direito e não faz um julgamento correto, sua propagação torna-se mais simples ainda.

Tudo isto necessário para mostrar as pessoas que a leitura ainda é importante, o texto ainda importante e a interpretação também é extremamente importante. Não propague informação simplesmente como você é a recebe, leia, interprete, compreenda e aí sim faça um juízo de valor, divulgue ou interaja nas redes sociais ou qualquer outro meio compreendendo bem aquilo que você leu e aquilo que você está falando ou escrevendo.

É claro que há exceções e não podemos generalizar, há muita gente interessada em fazer a coisa certa, mas não podemos fechar os olhos para esta triste realidade.

Você leu até aqui? Compreendeu? Parabéns!

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