É mais frio nas baixadas ou nas partes mais altas das cidades?

Sabemos no alto das montanhas a temperatura é mais baixa do que na beira do mar, mas como explicar o fato que em regiões de baixada e beira de rio e mais frio do que nas partes altas?

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Compreender o frio é uma arte que poucos atentam. Exceto os meteorologistas que estudam e, portanto, tem isso como profissão, o cidadão comum as vezes não observa com atenção alguns detalhes interessantes relacionados a temperatura e que podem ser analisados mesmo por um leigo em meteorologia.

Um desses fatores é o fato de que mesmo dentro de uma cidade há locais mais frios que outros ou em uma escala um pouco mais expandido em uma determinada região, algumas partes são mais frias. Mas por quê? Como e por que ocorre esta diferença?

Um exemplo real

Eu nasci e vive até o final da adolescência no interior de Minas em um sítio que meu pai tinha. O sítio era bastante acidentado começando em uma parte mais alta e terminando em uma parte baixa onde inclusive corria um córrego. A minha casa ficava na parte mais baixa, bem próximo ao riacho.

Desde criança eu aprendi uma coisa: Na minha casa fazia muito mais frio a noite do que na parte alta do sítio. Como havia uma estrada que cortava o sítio de cima a baixo, era comum ouvir as pessoas comentarem que quando elas estavam descendo a noite, assim que passava perto da nossa casa esfriava muito e isto acompanhou toda a minha vida. Eu só não sabia o porquê.

Na época nós imaginávamos que aquilo se referia ao fato de haver ali um riacho, pois acreditávamos que o fato de haver riozinho com água corrente, isso tornava a temperatura mais baixa, o que de certa forma não é necessariamente errado mas seria muita ingenuidade pensar que uma pequena corredeira pudesse provocar uma mudança tão significativa de temperatura como aquela que observávamos.

Depois quando comecei a estudar o assunto, descobri que quanto mais alto for a localidade, mais frio será, pois a altitude que é a distância em metros do nível do mais um dos principais fatores para determinar a temperatura. Evidentemente que esta descoberta me confundiu, pois eu tinha uma referência prática que era exatamente o inverso.

Altitude e o efeito baixada

Frio em baixada - Campos do Jordão

Mas, depois de um pouco mais de estudos sobre meteorologia e um pouco de física, você descobre que as duas coisas estão corretas, contudo, uma atua em um plano macro e outra em um plano micro. Vamos entender.

Altitude – plano macro

A altitude é usada para determinar a posição em relação ao nível do mar e, portanto, é uma medida vertical que pode ser aplicado a cidades, montanhas ou qualquer outro ponto em qualquer lugar da terra.

Para fins de temperatura quanto maior a altitude, mais frio será. Este é um padrão basicamente invariável e, portanto, bem fácil de ser aplicado. Normalmente a cada 100 ou 150 metros de altitude acima, diminui-se 1 grau na temperatura e o inverso também pode ser aplicado

Por exemplo: Eu moro em Limeira no interior de São Paulo e a altitude aqui é em torno de 600 metros acima do nível do mar. Campos do Jordão está a 1628 metros acima do nível do mar. Como acompanho bastante as variações de temperatura, percebo que em média a diferença de temperatura de Limeira e Campos do Jordão varia em 6 a 8 graus.

Faço uma comparação com outras cidades também, como São Paulo, Monte Verde, Poços de Caldas, entre outras e dá para perceber claramente que a diferença de altitude é o que determina a diferença de temperatura.

Portanto em um plano macro, quanto mais alto for o local mais frio será e ao nível do mar tende a ser muito mais frente.

É preciso apenas deixar claro que não é só a altitude que determina a temperatura, pois há outros fatores como a latitude, incidência do sol, umidade do ar, vento, dentre outros. Mas em um plano geral ou macro a altitude é um dos principais fatores.

Efeito baixada – plano micro

Porém voltando ao exemplo que dei e a minha experiência de infância, há outro fator importante para mudar e bastante a temperatura em um plano micro que é o efeito baixada.

Basicamente a ideia é a seguinte: Durante o dia o sol atua sobre a terra e toda a superfície esquenta, em alguns lugares mais do que em outro, dependendo do tipo de superfície que ele encontra. Mas quando o sol se põe a terra começa a perder o calor que ganhou durante o dia, este é um evento normal e ocorre todos os dias.

Nesta perda de calor, o ar quente sobe e o ar frio que é mais denso desce. Este é um efeito que se aplica a qualquer situação que evolva temperatura. Com isso o ar frio vai ficar depositado nas partes mais baixas, daí vem o nome “efeito baixada” e isto era o que ocorria no sítio do meu pai e por isso a temperatura a noite ficava tão baixa próximo ao riacho e mais quente na parte alta do sítio.

Um efeito muito parecido com esse eu pude perceber na cidade de Campos do Jordão quando estive lá em 2016. Naquela ocasião ficamos hospedados em um hotel que ficava na parte alta da cidade, bem em cima do morro e a noite era comum descermos para o centro da cidade que fica na parte mais baixa para jantarmos ou simplesmente para caminhar à noite curtir um pouquinho frio.

Era nessas idas e vindas que percebemos uma mudança de temperatura significativa, ainda mais que o meu automóvel na época tinha o medidor de temperaturas e com isso era fácil você perceber que do ponto em que estávamos no hotel até a parte baixa da cidade na região do centro ou do bairro do Capivari, como é conhecido, havia uma diferença significativa de temperatura sendo que o centro era muito mais frio do que a região do hotel onde estávamos hospedados.

Inclusive o meu filho que ainda era pequeno, nunca tinha visto geada na vida, então como era mês de julho estava fazendo bastante frio, monitorei a temperatura e em um determinado dia havia uma boa condição para formação de geada. Acordamos bem cedo e abrimos a janela do hotel na esperança de vermos as folhas das árvores e o gramado em volta todo branco, mas para nossa surpresa não havia nada. Como estava fazendo muito frio peguei o carro e descemos até a região central novamente e foi aí que para nossa surpresa lá estava coberto de geada, o que comprova este princípio de que nas regiões baixas ou nas regiões de baixadas você vai encontrar muito mais frio à noite do que nas partes mais altas, mas isto considerando apenas a ideia do microclima.

Teste você mesmo

Você mesmo pode fazer um teste em sua cidade para verificar a existência do efeito baixada. Para isso o ideal é que você tivesse um medidor de temperatura, alguns carros mais modernos já têm este recurso e se tiver é bem simples de testar. Se não tiver você pode usar um medidor manual, desses comuns que tem relógios digitais de mesa mesmo. Nesse caso você deve escolher um dia que esteja um pouco frio e sair à noite pela cidade alternando entre as partes mais altas e as regiões de baixada, especialmente aquelas próximas a rios onde tem bastante vegetação. Embora como explicado acima o riacho esse não seja capaz de provocar uma mudança muito significativa da temperatura, mas a combinação dele com efeito baixada e a presença de bastante vegetação, pode proporcionar um ambiente mais favorável ainda para você ter temperaturas mais baixas. Ao alternar entre as partes altas e baixas você poderá perceber claramente e numericamente a mudança de temperatura.

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